A teoria do gene egoísta sustenta que a descendência é uma forma de perpetuação. Assim, ter filhos garante que os genes serão preservados e propagados. Aos filhos também são delegados o patrimônio e o nome de família, que provavelmente tem sua origem remota no agrupamento tribal, modelo que persiste desde a era das cavernas até agora.
Apesar disso, a filiação não é a única forma de constituir um legado. Existem outras visões de abordagem espiritualista que contradizem a teoria do gene egoísta. Em uma sociedade em que a taxa de natalidade de muitos países é decrescente, talvez a necessidade de procriar não seja tão determinante, embora instintiva.
De acordo com a visão da espiritualidade, o legado não é restrito ao fato de gerar ou não descendentes. O legado refere-se a uma contribuição para o mundo além da carga genética. Dessa forma, conecta-se com o sentido da vida e à atribuição de significado para a existência.
O ser humano pode ser definido como um projeto paradoxal de desenvolvimento do si mesmo, uma consciência em meio a escuridão que busca incessantemente a luz, até reconhecer que ele próprio é a chama.
E essa chama é o nosso legado. Um ato de criação consciente que expressa a nossa singularidade e com a qual contribuímos de forma única e significativa para um mundo melhor, iluminado pela nossa chama, mesmo que pequenina.
Aos filhos mais do que uma herança material, deveríamos deixar a inspiração para manter a chama acesa. E aqueles que por acaso não tiverem filhos, lembre-se que somos irmanados enquanto raça humana e cabe a todos iluminar as gerações futuras, abençoando-as com o resplandecer criativo da Alma.