A loucura ainda é um grande mistério a ser desvendado. De certa forma, representa um desvio do caminho escolhido pela maioria e, assim, trata-se de uma trilha solitária e incompreendida pelo homem comum. Acredita-se que a loucura não é uma escolha consciente, mas uma patologia que acomete o indivíduo.
No entanto, há outro desvio de caminho, também incompreendido, que é o do buscador espiritual. Em muitas situações, pode ser difícil distinguir entre o louco e o sábio, pois ambos se recusaram a aceitar as condições da normalidade. Entretanto, a principal diferença encontra-se na consciência. O sábio escolhe o caminho e a sua busca é consciente, embora aos olhos dos demais, pareça insana.
O conto de autoria de Kahlil Gibran (1883 – 1931), intitulado “O louco” proporciona a reflexão sobre tema de forma lírica:
Perguntas-me como me tornei louco. Aconteceu assim:
Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas – as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas – e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente, gritando: “Ladrões, ladrões, malditos ladrões!”
Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim.
E, quando cheguei à praça do mercado, um garoto trepado no telhado de uma casa gritou: “É um louco!” Olhei para cima, para vê-lo. O sol beijou pela primeira vez minha face nua.
Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei mais minhas máscaras. E, como num transe, gritei: “Benditos, benditos os ladrões que roubaram minhas máscaras!”
Assim me tornei louco. E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois, aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós.
O personagem relata que o Sol beijou a sua face nua pela primeira vez. Em muitas tradições, essa imagem corresponde à iniciação esotérica, quando o buscador atinge um grau elevado de sabedoria. Depois dessa descoberta, ele não deseja mais as suas 7 máscaras, que usou por 7 vidas. O número 7 possui um vasto simbolismo na tradição esotérica, sendo uma relacionada aos corpos do ser humano, a saber: físico, energético, emocional, mental, causal, Alma divina e Espírito divino.
O desenvolvimento espiritual consiste em ativar a consciência plena desses corpos, que no conto poderiam ser representados pelas 7 máscaras, que uma vez despidas em decorrência do roubo, possibilitaram o desvendar da luz da espiritualidade.