Os versos do grande poeta Fernando Pessoa, “navegar é preciso, viver não é preciso”, poderiam ser adaptados para a meditação.
A ambiguidade do termo preciso no sentido de necessário ou de exatidão, expande as possibilidades de interpretação. Será que ele quis dizer que viver não é necessário, mas navegar, sim? Ou será que ele disse que navegar conduz ao um porto (alvo) e conta com instrumentos de cálculo para guiar o navio pela rota, enquanto viver é andar por caminhos sinuosos imprevisíveis, sem um mapa para servir de guia?
Viver sem meditar é como andar no escuro sem conhecer o caminho. A meditação, antes de tudo, é uma forma de higiene mental. É como tomar banho ou escovar os dentes, promovendo o bem-estar e atuando profilaticamente.
O modo de vida ocidental contemporâneo estimula o estado de alerta e a exposição contínua a estímulos, acelerando a mente e sobrecarregando o processamento de informações. Então, meditar pode ser uma maneira eficiente de limpar a mente e relaxar o corpo.
Além disso, meditar é “afinar” a mente, no sentido de equilibrar esse maravilhoso instrumento para nos servir, e não o contrário. Aprender a meditar é domar o seu poderoso cavalo, montar nele e sair galopando em direção às suas metas.
Enquanto não somos capazes de meditar, nós é que carregamos nas costas esse cavalo por aí, em busca de atender os seus desejos. A mente indomada é traiçoeira, inconstante e está serviço exclusivo dos instintos.
Nesse estado, os comportamentos altruístas que caracterizam a humanidade custam a se manifestar. Rick Hanson, eminente psicólogo da Universidade de Berkeley, adverte que “Para manter os nossos antepassados vivos, a Mãe Natureza desenvolveu um cérebro que os enganava, rotineiramente, para que cometessem três erros: ameaças superestimadas, oportunidades subestimadas e recursos subestimados.”
Assim, para sobrevivermos e ocupar a liderança entre as espécies, a evolução moldou cérebros que se conectam com a falta e o medo, mantendo o estado de alerta operando permanentemente para estar pronto a lutar ou fugir.
Não bastasse isso, vivemos na sociedade da informação, em que a troca de mensagens é ininterrupta e incessante, visando algum tipo de consumo e, nem sempre, uma conexão.
Estímulos não faltam e se misturam neste grande liquidificador mental, girando sem parar. É preciso tomar distância do que é processado para se perceber a nossa verdadeira essência. Meditar é uma ferramenta valiosa para o processo de diferenciação entre pensamentos, sentimentos, estímulos e instintos, possibilitando a contemplação do Eu.