Buda e a caixa de Bis

O mundo pode ser dividido entre dois tipos de pessoas: aquelas que abrem uma caixa de Bis e saboreiam uma unidade por vez e aquelas que devoram vorazmente a caixa toda. Enquanto uma pensa: hum… amanhã como mais um, a outra se pergunta: ué, já acabou?
Todo mundo tem uma caixa de Bis na sua vida. Caso o chocolate em si não te apeteça muito, busque a tua própria versão, aplicando a fórmula para algo que te pareça irresistível provar e impossível não repetir, ou seja, o teu Bis.
bis
E o que Buda tem a ver com isso?
Digamos que as coisas boas da vida, prazeres, realizações, desejos e alegrias sejam a caixa de Bis. O degustador sorve o prazer lentamente e com moderação, atitude oposta do devorador. Enquanto este se delicia com um chocolate na boca, já está pensando em comer o próximo.
Nenhum dos posicionamentos, para o budismo, proporciona a plenitude. Tanto o degustador como o devorador irão se confrontar com a insatisfação, pois a existência humana é regida pela lei da impermanência. Se tudo é transitório e impermanente, tanto faz se saboreio ou me esbaldo.
A verdade, diria Buda, é que prazer nenhum poderá  te satisfazer plenamente, uma vez que neste mundo da impermanência não se encontra satisfação possível.
Então só me resta sofrer?
Não era exatamente esta a conclusão almejada pela autora desta reflexão. Segundo o budismo, uma das causas do sofrimento é que buscamos a plenitude onde ela nunca poderá ser encontrada, isto é, na impermanência. Sendo assim, as alegrias e realizações podem até nos proporcionar prazer temporário, mas não plenitude.
buddhaaltar
Estudos científicos recentes na área da psicologia e neurociência comprovam que os seres humanos se habituam rapidamente às mudanças, de forma que os ganhos em termos de felicidade, são transitórios. Por exemplo, pesquisas demonstram que ,depois de um ano, o grau de felicidade de quem ganhou muito dinheiro na loteria retorna quase ao nível original, anterior a esses eventos.
E o mais incrível é que o mesmo acontece em relação ao sofrimento.  Depois de três meses, é possível que pessoas que se tornaram paraplégicas, voltem a experimentar momentos de felicidade. Daniel Kahneman, psicólogo e ganhador do prêmio Nobel de economia em 2002, explica: “Com o passar dos dias eles se dão conta de que podem fazer coisas, como desfrutar as refeições e os amigos, ler, passear; isso tem a ver com a realocação da atenção”.
E a atenção parece ser a palavra-chave para a plenitude. Mindfulness, em português, atenção plena, é o estado de viver o presente momento a momento, sem julgamento.
E o que a caixa de Bis tem a ver com isso?
A mente tende a seguir pensamentos sem rumo quando não se pratica a atenção plena, vivendo mais no passado e no futuro e muito pouco no presente. Diante da caixa de Bis, o degustador pode pensar em poupar prazer para o amanhã, enquanto o devorador pode lembrar que ontem não obteve prazer suficiente. Ambos buscam sentimentos do passado ou imaginam emoções futuras. No entanto, as duas situações não pertencem ao momento presente. O passado já não existe e o futuro , antes de acontecer de fato, trata-se de mera fantasia.
Compreender a impermanência da caixa de Bis redireciona a mente para a plenitude, um estado de paz e aceitação do aqui e agora, que não pode ser proporcionado por nenhum objeto externo, exceto pela sua própria consciência.
meditate

Um comentário em “Buda e a caixa de Bis

  1. O bom de comer salada é que é gostoso voce pode comer o tanto que quiser e quando acaba não faz a menor diferença.rsrsrs.
    muito interessante o post.
    O ser humano, sempre tentando dar um jeito de fugir da frustração causada pelo seu apego aquilo que é finito.

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