Final de um ciclo e início de um novo ano. A passagem para o primeiro dia do mês de janeiro é comemorada em nossa cultura como um marco de renovação. A palavra deriva de Janus, uma divindade da mitologia romana com duas cabeças, uma voltada para o passado e outra para o futuro. Neste momento de transição, assistimos retrospectivas e revisamos os pontos altos do ano que findou, bem como projetamos nossas intenções e desejos para o novo ciclo, desejando a todos um feliz ano novo.
Mas que felicidade é essa que desejamos tanto? Quais itens incluímos em nossa lista de desejos? Proponho uma breve reflexão a respeito, considerando que o contexto cultural e midiático costuma promover como fonte da felicidade aquilo que é externo a nós e sobre o qual não temos nenhum controle e que, de certa forma, simboliza a “boa vida” idealizada pela sociedade de consumo.
Imagine que você pudesse escolher viver em desses cenários no próximo ano:
- Você teria muito dinheiro, saúde e reconhecimento. Poderia viajar para onde quisesse e comeria nos melhores restaurantes.
- Você estaria livre de aflições de sua mente, conseguiria viver num estado de tranquilidade e paz independente das circunstâncias, teria aprendido a relaxar e a sorrir para o que lhe acontecesse na vida.
Qual desses cenários você escolheria?
Eu recomendo que você escolha ambos.
Embora não tenha nada de errado em escolher apenas o primeiro, diversos estudos comprovam que esse tipo de felicidade é fugaz e produz satisfação temporária, devido a um mecanismo denominado “esteira hedônica”, que faz com que a adaptação à nova realidade gerada pela conquista dos itens apresentados neste cenário diminua a percepção de satisfação e, por conseguinte, o grau de felicidade. Além disso, quanto mais você repetir essas experiências, obterá menor retorno de gratificação e prazer.
Muitas vezes, nos planos e resoluções de Ano Novo, mantemos o foco na felicidade hedônica relativa ao primeiro cenário e nos esquecemos de incluir a dimensão intangível e sutil da existência, fatores fundamentais para a chamada felicidade genuína, um estado de bem-estar subjetivo que não depende das circunstâncias externas, de outras pessoas, da conquista de bens materiais e de realizações.
Então, para não correr o risco de sentir infeliz e assegurar uma felicidade genuína no ano que se inicia, não esqueça de incluir na sua lista de desejos**:
- Gratidão
- Altruísmo
- Fé
- Propósito
- Autocompaixão
- Atenção Plena
- Empatia
- Bondade amorosa
Outra sugestão é aproveitar o momento de retrospectiva e projeção do futuro para uma reflexão ampla sobre o significado do que seria um feliz ano vindouro, a partir dessas quatro indagações***:
- Qual é a minha visão de felicidade? O que me faria realmente feliz, trazendo sentido e significado à minha vida?
- O que eu precisaria receber do universo para que essa visão se realize, passando da condição de possibilidade para fato? O que eu gostaria de receber do meio em que vivo para cultivar essa felicidade?
- Qual o trabalho interno que eu tenho que fazer para concretizar essa visão? Que hábitos tenho que cultivar e quais tenho que superar? O que eu tenho que transformar em mim mesmo?
- O que eu gostaria de oferecer ao mundo em retribuição e também para as pessoas à minha volta que vão compor essa visão de felicidade?
Desejo a você um feliz Ano Novo, repleto de muita felicidade, tanto hedônica quanto genuína.
* Inspirado no livro “Revolução do Altruísmo” de Mattie Riccard.
** Inspirado no livro “A ciência de ser feliz” de Susan Andrews.
*** Inspirado na prática guiada “Bondade Amorosa” de Jeanne Pilli, que você pode ouvir aqui.